top of page
Foto do escritorVanessa Aparecida De Oliveira

Artista, arte e psicanálise: entendendo as relações

Há relação entre a arte e psicanálise, a psicanálise teve interesse pela arte da mesma maneira que se aprofundou nos demais ramos da ciência humana. Freud, em seu percurso para desenvolver a área da psicanálise, utilizou o mundo da arte para realizar várias referências.

Algumas sobre o desenvolvimento artístico e a pessoa do artista, outras sobre a obra em si, trabalhando sobre os efeitos da obra no indivíduo que acessa ela.

Já que a psicanálise, área interpretativa, almeja pelos motivos humanos mais profundos, isto é, as escolhas e porquês das atividades sociais e culturais.

Artista, arte e psicanálise

Naturalmente que a criação artística também seria área de estudo da psicanálise, em outros termos, desvendar os geradores profundos dos elementos criacionais do ser humano. Segundo Silva (1984, p. 17) , “Freud teve a sua atenção despertada quando começou examinar, detidamente, telas famosas como a Gioconda e a Sagrada Família, de Leonardo da Vinci; escultoras como Moisés, de Miguel Ângelo.”

Eis que Sigmund Freud começa a fazer aproximações entre psicanálise e arte, teorias freudianas e processos artísticos lado a lado. “Na literatura, as obras de Dostoievski, Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo; a novela de William Jansen, Gradiva; algumas tragédias de Shakespeare, Hamlet, Othelo e Macabeth, inclusive comédias, como O Mercador de Veneza. (SILVA, 1984, p. 17).

Obra e autor estão próximos, melhor dizendo, ela, narremos assim, revela a personalidade e vida do autor. Arte e artista são inseparáveis, de acordo com Silva (1984, p. 17), “negar isso é o mesmo que negar as leis da hereditariedade, isto é, tentar ocultar traços biológicos que identificam os filhos com os pais.”

Criador, criação, arte e psicanálise

A obra de arte tem como característica principal a marca de quem a arquitetou. O criador está refletido na criação, os seus traços personalísticos, indiretamente ou diretamente, estão ali. Na afirmação de Silva (1984, p. 18), “a arte é, evidentemente, o refúgio do artista.” É nela que os seus conflitos são emergidos, mesmo não querendo e, conforme o estilo, ele realiza uma catarse por entre páginas e linhas. O pensamento tem poder absoluto na arte, em cada linha escrita pelo autor existe uma reação afetiva, uma satisfação real.

Na assertiva de Silva (1984, p. 18), “com muita razão se fala numa magia da arte e se compara o artista com o mago.” É uma espécie de imposição mística realizada sobre a vontade humana, entretanto, é válido salientar que as construções culturais agem sobre a personalidade do indivíduo. Determinando não apenas um viés místico, mas há no ser humano uma gama de reações emocionais, constituindo os caracteres artísticos.



Se hoje compreendemos porque Dostoiévski escreveu romances tão sombrios, devemos aos estudos sócio- psicológicos de sua época e de sua personalidade, respectivamente. Rosseau e Voltaire, esses imortais vultos do Enciclopedismo, foram, por sua vez, produtos de um movimento histórico- filosófico. Assim, Émile e Candide não surgiram por razões estéticas. Ao contrário: anti- estéticas… Pois refletem movimentos sociais movimentos sociais, que redundaram na Revolução Francesa (SILVA, 1984, p. 19).

Fatores sociais, arte e psicanálise

Os fatores sociais repercutem na criação artística, ou seja, o artista não é um indivíduo isolado no seu universo. O artista é alguém que está adequado em sua realidade social, sua personalidade, conscientemente, repercute por entre condutas e éticas. O psiquismo do autor é o lápis que corre em inúmeros contornos no papel. Silva (1984, p. 22), “a história da Arte tem demonstrado, através das biografias, que as grandes obras, em regra, são filhas da neurose e do sofrimento.”

A biografia é o ponto de partida da crítica da psicanálise, onde o autor e sua arte são confrontados. As atividades do artista são dissecadas com a finalidade de compreender suas origens psíquicas. Como aponta Silva (1984, p. 24), “muitas ocasiões, o romancista, o poeta, o contista, ao compor, é vítima de um fenômeno chamado hiperminésia (exaltação da memória).”

É a sensação de inspiração do autor, é o nascedouro do ato criacional, mas a inspiração nada mais é do que a rememoração de situações do tempo da infância. E a produção artística nasce com mesclas das fases infantis e do tempo recente. Biografia e processo de criação andam juntos, a arte é um reportar à vida do autor, ela, biografia, elucida o significado, por exemplo, de um dado texto.

Obra e caráter humano

Da arte brota o caráter humano, pois os símbolos que compõe ela estão constituídos a partir das experiências pessoais do artista. Arte é a manifestação de sentimentos do criador, onde os mesmos são influxos psicológicos e que necessitam de interpretação. A psicanálise é a área aparelhada para explicar a criação artística. Ela vai no íntimo da criação, mostrando as chaves para o porquê de determinada criação.

Observando as emoções ali intrincadas: complexos, recalques, frustrações, neuroses, fatores que influenciam direta ou indiretamente a construção da obra. Sendo assim, compreender o ato criador é conhecer os aspectos subjetivos do criador. Silva (1984, p. 29), “pois arte fabricada não é sentida, inspirada; deixa de ser espontânea.” O sentido da arte está no desabafo do artista, isto é, arte sem o sentimento do artista é artificial, ela não parte do interior do sujeito. A arte precisa de sinceridade, é o autor refletido na obra.

Pode ser citado o parnasianismo , onde a perfeição foi exigida dos poetas. A inspiração foi duramente prejudicada, o poeta parnasiano buscava aproximações com o classicismo para atingir a perfeição literária, mas os literatos clássicos já haviam dado tudo o que tinham de conhecimento. Como mostra Silva (1984, p. 30), “assim, enquanto os parnasianos policiavam a gramática e a estilística, criavam uma arte deformada: insincera, artificial, marmórea.”

Uma relação fria entre artista e arte

Ainda citando Silva (1984, p. 30), “sabe-se, pelos ensinamentos da Psicanálise, que não só o artista, mas todos nós temos inúmeras atitudes de defesa, quando queremos encobrir determinados sentimentos.” No pensamento de Silva (1984, p. 30), o ser humano, psiquicamente falando, é constituído por defesas, em outros termos, elas podem ocorrer consciente ou inconsciente: projeções, lapsos, identificações, transferências, sublimações, racionalizações, etc. Para Silva (1984, p. 30), “arte é, pois, a confissão simbólica de segredos inconfessáveis.”

Ela extravasa os recônditos do criador, proporcionando um efeito catártico, onde conteúdos latentes carregam variações de conteúdos psíquicos. Silva (1984, p.30) cita a obra O Alienista, escrita por Machado de Assis. O livro tem como personagem principal o doutor Simão Bacamarte, um psiquiatra fora dos padrões, um personagem, digamos assim, ridículo.

Machado procurou convencer os leitores sobre a inferioridade dos psiquiatras, claro, Machado de Assis era epilético, traumatizado com sua realidade de vida. Sendo assim, Machado de Assis quis passar uma imagem de que a normalidade estava nele e a loucura nos psiquiatras. É o chamado mecanismo de racionalização, em outras palavras, a razão como instrumento de justificação diante de uma realidade não ideal.

5 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page